Depois de escrever um poema,
experimente fazer o movimento contrário.
Primeiro, arranque-lhe a forma:
retire os versos ornamentados, as métricas impecáveis, as rimas prontas, o ritmo cadenciado. Anule os métodos e procedimentos de construção. Deixe-o desritmado,
desintegrado. Emudeça a sonorização.
Em seguida, arranque-lhe a
poesia. Retire a linguagem poética e metafórica. Desfaça sentidos, conceitos e símbolos.
Decomponha as entrelinhas, o excesso, as implicaturas.
Deixe que as palavras respirem,
vazias e nuas.
Liberte-as de ideologias,
formatos e propósitos. Enterre suas máscaras e múltiplas semânticas.
Des-cubra valores éticos e
estéticos. Procure manter a face pura e neutra.
Obtenha, assim, o princípio e a essência
da criação. Inspire-se no silêncio, no inverso do pensamento.
Alimente-se da não poesia
E comece tudo outra vez.
Nenhum comentário:
Postar um comentário