quinta-feira, 25 de julho de 2013

Do outro lado

De longe, era apenas um ponto. E de perto? Supôs que não poderia saber, pela distância em que se encontrava. Mas não fez questão de se aproximar.

A coisa parecia adquirir novos formatos, depois retornava ao original. A imagem turva provocada por uma visão já prejudicada não definia cores. Era algo meio preto, meio marrom, meio acinzentado.
                
Poderia ser, quem sabe, uma pessoa. Não tinha certeza se os movimentos do ponto eram mero engano de seus olhos. Às vezes, o via aumentar, como se estivesse mais perto, às vezes diminuía, tornando-se quase inexistente.
                
Um ser vivo qualquer. Talvez um animal, uma árvore. Mas aquilo flutuava! Já flutuava antes? Seu entorno era deserto e obscuro. Mesmo iluminado, não teria sido facilmente decifrado.

As coisas mais esquisitas surgiram como possibilidade. Uma nave que logo iria aterrissar. Alguém praticando levitação. Um balão sem força para subir. Uma sombra, um reflexo de um outro ponto qualquer não avistável.

Por um instante, aquilo nem parecia real. Assemelhava-se às figuras distorcidas que só conseguimos enxergar de olhos fechados. Ao menos tinham identidade, sabia-se que eram imaginárias.

Decidiu que não era seguro se aproximar. Se ninguém o havia feito, não ousaria. E, de certo modo, não se sentia mais em conflito.

Apegou-se firme à ideia de que aquilo não seria outra coisa senão um ponto. De que valeria descobrir que fosse diferente? O diferente é desconhecido, portanto, perigoso.

Bastava sabê-lo assim.