quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Uma ou mais vozes

Vozes gritantes
Veementes
Covardes

Tenras
Caducas
Vãs e selvagens

Roucas
Severas
Caladas enfim

São vozes dos outros
De todos
De mim.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Esgotamento


Somente órgão é meu coração.
E a terra dura
É complemento
Dos pés, do tronco, da mão.

Ressecam os olhos
Em vidro moldados
Não riem, não choram:
Ao pó são fadados.

Os lábios serenos
Padecem da vida
Tampouco vivida,
Amada ou sofrida.

Máquina perfeita
Sujeita à imperfeição.
Pele, osso, matéria vil:
É a minha composição!

Ativo ou inativo,
Quente ou frio,
Somente órgão é meu coração.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Contradição

Faz-se dia
Eu anoiteço
Cai a gota
Endureço

Na sombra
Eu acendo
No vácuo
Me preencho

Nasce o rio
Eu definho
Cai o corpo
Regenero

Mascarada
Me desnudo
Em festejos
Ando armada


Porque sou muito e pouco
Tudo
E nada.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Do outro lado

De longe, era apenas um ponto. E de perto? Supôs que não poderia saber, pela distância em que se encontrava. Mas não fez questão de se aproximar.

A coisa parecia adquirir novos formatos, depois retornava ao original. A imagem turva provocada por uma visão já prejudicada não definia cores. Era algo meio preto, meio marrom, meio acinzentado.
                
Poderia ser, quem sabe, uma pessoa. Não tinha certeza se os movimentos do ponto eram mero engano de seus olhos. Às vezes, o via aumentar, como se estivesse mais perto, às vezes diminuía, tornando-se quase inexistente.
                
Um ser vivo qualquer. Talvez um animal, uma árvore. Mas aquilo flutuava! Já flutuava antes? Seu entorno era deserto e obscuro. Mesmo iluminado, não teria sido facilmente decifrado.

As coisas mais esquisitas surgiram como possibilidade. Uma nave que logo iria aterrissar. Alguém praticando levitação. Um balão sem força para subir. Uma sombra, um reflexo de um outro ponto qualquer não avistável.

Por um instante, aquilo nem parecia real. Assemelhava-se às figuras distorcidas que só conseguimos enxergar de olhos fechados. Ao menos tinham identidade, sabia-se que eram imaginárias.

Decidiu que não era seguro se aproximar. Se ninguém o havia feito, não ousaria. E, de certo modo, não se sentia mais em conflito.

Apegou-se firme à ideia de que aquilo não seria outra coisa senão um ponto. De que valeria descobrir que fosse diferente? O diferente é desconhecido, portanto, perigoso.

Bastava sabê-lo assim.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Amor

Tentei escrever sobre o amor. 
Saí à procura da rima perfeita, da palavra exata. 
Cada dia, eu rabiscava de um jeito: às vezes, em forma de poesia, 
às vezes, em prosa. 
Não havia sintonia ou qualquer linearidade. 
Tentei descrever as sensações humanas, falar do sublime, do físico, do real e do ideal. As palavras nunca eram as mesmas, não convergiam; apenas se entrecortavam, como se quisessem anular uma à outra.

Juntei toda aquela mistura, de frases e versos fragmentados, 
quando me dei conta: o amor era aquilo.

quinta-feira, 9 de maio de 2013

"Ele me olhou como se eu fosse uma. Olhou de volta e viu outra. E não entendeu que eu era uma e outra."


"O ser humano julga o tempo inteiro. O ser humano tem preconceitos. O ser humano é hipócrita, egoísta, individualista; não apenas porque o meio social o fez assim, mas porque faz parte de sua natureza.

O que nos torna diferentes não é o que pensamos, o que essencialmente somos, mas o modo como agimos, as escolhas que fazemos ao longo da vida."


"As verdades são muitas. A minha, mistério."


"Pessoas não são divididas entre boas e más, religiosas e não religiosas, santas e vulgares, com e sem caráter. Esse falso maniqueísmo de que o mundo é feito anula as contradições intrínsecas ao ser humano."